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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Onde está o amor

Onde está o amor
Amar é como falar: a gente aprende

Uma química delicada se produz entre duas pessoas que se sentem atraídas uma pela outra. O encontro se faz quase sempre pelo olhar. Segue-se a participação da boca, primeiro em sorrisos, depois em palavras. Aí vai surgindo o desejo de tocar, de abraçar.
Pesquisadores americanos dizem que precisamos de seis abraços por dia para não nos sentirmos carentes. Por que seis? Talvez porque um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda, quatro então nem se fala...
Nossos braços servem para abraçar, enlaçar. Só que cada abraço tem que ser sentido, vivido. Como diz o terapeuta paulistano José Ângelo Gaiarsa, você não toca no outro como se ele fosse uma cadeira. Senão você está coisificando o outro. Acontece que o outro é de carne e osso, parecido com você, por isso, o gesto não pode ser impensado, mecânico, automatizado.
As pessoas estão cansadas do gesto maquinal que não reflete nada. Quando eu toco o outro, que está além das fronteiras do meu próprio corpo, eu o sinto e sinto a mim mesma simultaneamente. Nesse sentido, podemos ficar horas sem fim nos tocando e nos sentindo. Mergulhando na sensação, percebendo o outro e me percebendo, tenho a sensação de estar sendo abraçada.
A criança registra essa impressão na mente e vai pelo resto da vida tentando reconstituir, reencontrar essa sensação. Por isso o ser humano tem fome de abraço. Ele está tentando repetir o prazer que está associado a essa primeira experiência.
Assim como aprendemos a falar porque alguma pessoas falam conosco e vamos falar da forma como elas falaram -, também aprendemos a tocar em grande parte dependendo da forma como fomos tocados. O aprendizado do amor começa aí. As sensações de mamar e amar ficam profundamente interligadas e até inseparáveis em nossa mente.
Mais tarde, freqüentemente comer se torna uma forma de compensar a falta de amor. É por isso que, quando estamos carentes, atacamos a geladeira, bebemos mais cerveja, tomamos mais sorvete, comemos mais um chocolate.
Tanto a fome de alimento com essa fome de contato normalmente se intensificam nos períodos de tensão. Entretanto, enquanto a fome de alimento podemos matar sozinos com comida, cigarro ou álcool, a fome de contato dificilmente pode ser satisfeita sem outra pessoa. O que se resolve com gestos que nos aproximam, nos vinculam ao outro. Entretanto, pode-se alisar, abraçar, tocar de forma apressada, impensada, dissociada. Ou pode-se tocar sensualizando, erotizando cada movimento.
Cada gesto traduz um sentimento, uma emoção, que provoca uma reação. Se o gesto é indiferente, não manifesta nada, não tem energia nem intenção, você congela o outro e se congela. Se ele for macio, terno, doce, você derrete o outro e se derrete. Se ele for erótico, excitante, estimulante, apaixonado, você incandesce o outro e se incandesce também.
Muitas vezes, quando se faz amor, carinho e carícia se misturam, se juntam, se fundem e confundem. Brincamos com o nosso corpo porque sabemos que fazer amor é "um alisar o outro e o outro alisar o um". Nessa troca de carícias, o outro responde ao meu gesto e tende a fazer aquilo que meu gesto insinua. O que acontece é uma conversa dos dedos sobre a pele.
O que se busca, quando se faz amor, é essa ampliação da consciência do contato. Na medida em que vamos aprendendo a ampliar o contato com outra pessoa, vamos ampliando e aprofundando nosso contato vivo e prazeroso com tudo o que existe.
*Maria Helena Matarazzo é sexóloga e autora de Coragem para Amar , Nós Dois e Namorantes

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